domingo, 8 de fevereiro de 2015

Ontem acabei de ler… XII


Até ler este achava que “O Ensaio Sobre a Cegueira” era o mais cinemático dos livros do autor e o facto é que foi adaptado ao cinema. Não estranho o facto deste livro que acabei de ler, também já o ter sido e estou curioso para ver o filme. No caso do “O Ensaio Sobre a Cegueira” acho que o filme está à altura do livro, espero que neste também seja assim, porque do livro gostei bastante!
Deixo-vos umas breves passagens porque desta vez estava um pouco preguiçoso de apontar…

“…as palavras, ao passar, deixam sempre ficar borras, para saber o que de facto nos tinham querido comunicar há que analisar essa borras minuciosamente.”

“Ao contrário do que em geral se pensa, tomar uma decisão é uma das decisões mais fáceis deste mundo, como cabalmente se demonstra pelo facto de não fazermos mais que multiplica-las ao longo de todo o santíssimo dia, porém, e aí é que esbarramos com o busílis da questão, elas sempre nos vêm a posteriori com os seus problemazinhos particulares, ou, para que fiquemos a entender-nos, com os seus rabos por esfolar, sendo o primeiro deles o nosso grau de capacidade para mantê-las e o segundo o nosso grau de vontade para realizá-las.”

“… chegou-lhes um fósforo aceso e ficou a olhar o rápido trabalho do fogo, a labareda que ia mastigando e engolindo os papéis e logo os vomitava feitos em cinza, as rápidas cintilações que teimavam em mordê-los quando a chama, aqui e além, parecia ter-se extinguido.”

“… e as palavras que dizia desciam sobre o corpo do homem aflito com uma chuva fina, dessas que nos tocam a pela como uma carícia, como um beijo de água.”

“A alma humana é uma caixa donde sempre pode saltar um palhaço a fazer caretas e a deitar-nos a língua de fora, mas há ocasiões em que esse mesmo palhaço se limita a olhar-nos por cima da borda da caixa, e se vê que, por acidente, estamos procedendo segundo o que é justo e honesto, acena apavoradamente com a cabeça e desaparece a pensar que ainda não somos um caso perdido.”



FATifer